sexta-feira, 31 de outubro de 2008


Animais egípcios eram mumificados como humanos

As receitas usadas pelos antigos egípcios para mumificar animais eram tão complicadas quanto as que eles usavam para mumificar pessoas, de acordo com pesquisas britânicas.

Os órgãos internos dos animais eram retirados cuidadosamente e enrolados em ataduras de maneira elaborada, antes de serem tratados com produtos como cera de abelhas e betume.
O estudo de pesquisadores da Universidade de Bristol foi publicado na revista Nature.
Os egípcios mumificaram diversos tipos de animais, de vacas e crocodilos a escorpiões e cobras. Às vezes, eles mumificavam até leões.
A grande quantidade de animais mumificados encontrados no Egito levou pesquisadores a supor que eles eram preparados com menos cuidado, em comparação com seres humanos.
Mas os químicos orgânicos Richard Evershed, Katherine Clark e Stephen Buckley demonstraram que a situação é diferente.
Eles analisaram os restos mumificados de um gato, um falcão, e um íbis para conhecer a composição das substâncias químicas usadas em sua preparação.
"Encontramos combinações de materiais muito semelhantes às usadas para embalsamar seres humanos", disse Evershed.
Oferendas
Quatro grupos de animais foram identificados pelos pesquisadores: aqueles colocados nas tumbas para ser usados pelos mortos como comida numa vida posterior, os que eram animais de estimação da pessoa morta, animais mumificados como símbolos de um culto e aqueles dados como oferenda aos deuses.
Os três primeiros tipos são encontrados em diversos momentos da história egípcia. Mas o último é geralmente restrito ao período greco-romano.
Alguns cientistas afirmam que, em alguns casos, animais eram mumificados antes, e não depois de sua morte.
As múmias estudadas pelos cientistas são do último período em que pessoas eram mumificadas no Egito, que foi de 818 AC a 343 AC.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008


Encontrada a múmia de Nefertiti
Um grupo de pesquisadores diz ter encontrado o corpo mumificado da rainha Nefertiti, um dos personagens mais famosos da história do Egito antigo.

"Há uma possibilidade muito forte", disse Joann Fletcher, que liderou a expedição patrocinada pelo canal Discovery.
Os cientistas acreditam que o corpo da rainha é uma das três múmias descobertas na câmara secreta de uma tumba conhecida como KV35 no Vale dos Reis, em Luxor, no Egito.
A tumba foi originalmente localizada e catalogada em 1898, mas as múmias haviam sido cobertas e, aparentemente, esquecidas.
O paradeiro dos restos mortais de Nefertiti tem sido durante muitos anos um dos maiores mistérios para os arqueoélogos. Clique abaixo para ver reportagem em inglês sobre a suposta descoberta:

Peruca

A rainha Nefertiti, juntamente com o marido dela, o faraó Akhenaten, governaram o Egito de 1353 a 1336 a.c., durante a 18º dinastia de governantes.
No entanto, praticamente todas as pistas da rainha e de seu marido foram apagadas, depois que Akhenaten tentou sem sucesso substituir a devoção aos deuses egípcios pela adoração ao deus do sol, Aton, em uma das primeiras tentativas de praticar o monoteísmo.
Joann Fletcher disse ter se interessado pela descoberta depois que uma peruca encontrada ao lado das três múmuas no Vale dos Reis foi identificada como sendo do tipo usada pelas mulheres da 18º dinastia.
Um exame mais detalhado levou à descoberta do corpo de uma mulher jovem, com dois furos na orelha, a cabeça raspada e a marca de uma tiara apertada, geralmente usada pela realeza.
A múmia – que havia sido desfigurada e mutilada – também teve um braço removido, o qual foi encontrado embrulhado perto dos restos mortais. O braço estava dobrado, um sinal, segundo Fletcher, de que poderia estar segurando um cetro.
As outras duas múmias – um adolescente e uma mulher idosa – ainda não foram identificados.
A especialista em assuntos do Egito antigo, Susan James, afirma, no entanto, que "evidências conhecidas e publicadas antes da expedição indicam que é muito improvável que seja mesmo a múmia de Nefertiti".

Fetos são de filhas gêmeas de Tutancâmon, diz análise
Estudo com DNA de fetos indicou que gêmeas nasceram mortas, disse pesquisador

Dois fetos mumificados encontrados na tumba do faraó egípcio Tutancâmon poderiam ser de suas filhas gêmeas que nasceram mortas, indica a análise preliminar do DNA dos corpos pelo anatomista britânico que há quatro décadas estuda os despojos do rei egípcio.
As novas descobertas serão apresentadas nesta segunda-feira pelo professor Robert Connolly, da Universidade de Liverpool, em uma conferência sobre farmácia e medicina do Egito Antigo na Universidade de Manchester. "Estudei uma das múmias, a maior, em 1979, determinei o grupo sangüíneo desta múmia bebê e comparei com o grupo sangüíneo de Tutancâmon que defini em 1969. Os resultados confirmaram que este feto maior poderia ser da filha de Tutâncamon", afirmou Connolly. "Agora acreditamos que são gêmeas e ambas suas filhas. A análise do DNA que está sendo realizada pelo grupo do Dr. Hawass, no Egito (Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antigüidades egípcio), vai contribuir com outra peça-chave para essa questão." Os fetos foram encontrados na tumba de Tutancâmon, em Luxor, em 1922. Sabe-se que o faraó, que morreu há três milênios quando tinha apenas 19 anos, casou-se com Ankhesenamun, filha da rainha Nefertiti, aos 12 anos de idade. Mas o casal não teve nenhum filho que tenha sobrevivido, acreditam os estudiosos. Connolly afirmou que a tese dos dois bebês gêmeos "se encaixa bem na idéia de uma única gravidez de sua jovem esposa". "É uma descoberta muito animadora, que não apenas pinta um retrato mais detalhado da vida e morte desde jovem rei, como também nos conta mais sobre sua linhagem", acrescentou. Os despojos de Tutancâmon foram examinados em testes de DNA e tomografia computadorizada em 2005. Estas foram as primeiras múmias a serem submetidas a estes testes, na tentativa de aportar novas informações à história dos governantes egípcios da Antigüidade. Tutancâmon governou o Egito de 1.333 a 1.324 a.C. Acredita-se que tenha chegado ao trono aos nove anos de idade. A diretora da conferência, a professora Rosalie David, disse que a tumba e a múmia de Tutancâmon "têm nos dado muita informação
sobre a vida no Egito Antigo, e pelo jeito continuarão dando por algum tempo". O evento em que as conclusões serão apresentadas reúne mais de cem delegados de cerca de dez países e é realizado em parceria entre a Universidade de Manchester e o Centro Nacional de Pesquisas, no Cairo.

domingo, 7 de setembro de 2008












A nova Cleópatra.
Por que a descoberta da estátua da rainha Tiy, avó do famoso Tutancâmon, vai revolucionar a história do Egito antigo

Cerca de mil anos antes de Cristo existiu um Egito que estava enterrado até a semana passada. E, nesse tempo, ele foi dominado pelos ideais de uma rainha que os arqueólogos acreditam ter sido mais bonita e poderosa do que a vaidosa Cleópatra, que espalhou sua sedução pelo Mediterrâneo e causou cobiça, disputas e guerras há menos de quatro décadas da era cristã. Tanto Cleópatra quanto as famosas pirâmides foram durante décadas o símbolo mais vivo do Egito antigo. Agora, equipes de pesquisadores europeus e americanos da Universidade Johns Hopkins desenterraram peças que mudarão o rumo da história egípcia, apresentando novos personagens e costumes marcados por uma poderosa dama chamada Tiy, que reinou entre 1427 e 1379 a.C. Esse passado está no sítio arqueológico dos colossos de Menmon, ao sul do Egito. A sua varredura trouxe à luz a imponente estátua da rainha Tiy, mulher do faraó da 18ª dinastia Amenotep III, além de duas esfinges representando o casal real e dez estátuas de granito negro de Sekhmet, a divindade com cabeça de leão. “Essas novas peças mudarão totalmente a percepção que temos desse lugar”, declarou Faruq Hosni, ministro da Cultura do Egito. Mais: Hosni falou, entusiasticamente, do Grande Museu Egípcio, um colossal projeto orçado em US$ 500 milhões que está sendo construído como extensão do famoso planalto das pirâmides de Gizé – ele será aberto ao público em outubro de 2011 e dará grande destaque, justamente, à rainha Tiy. Nesse museu serão expostas 100 mil peças arqueológicas do patrimônio faraônico, e a localização das novas estátuas incentivou definitivamente o governo a mudar de fato, e o quanto antes, o antigo Museu Egípcio erguido em 1902 no Cairo. Selar a mudança de um patrimônio nacional é para poucos, e somente uma mulher como Tiy poderia estar por trás dessa revolução na história cultural do país.

Ao contrário de todas as rainhas de que se tem conhecimento na civilização egípcia, Tiy não era de linhagem real e, segundo os historiadores, a simplicidade a fez carismática e extremamente popular. De origem asiática e filha de Yuya, guerreiro que comandava carruagens de guerra, casou-se com Amenotep III quando tinha entre sete e oito anos e teve com o marido uma forte relação, sobretudo de admiração e amizade. Foi inúmeras vezes homenageada com colossais esculturas que demonstravam o seu poder dentro e fora do palácio. “Em muitas peças Tiy era representada em condições iguais às de seu esposo, e essa honraria não coube a nenhuma outra rainha egípcia”, diz Hurig Suruzian, diretora da equipe de arqueólogos. A sua influência política também era grande e ela tomava decisões por conta própria: “Tiy era uma autêntica governante na sombra.” O império de Amenotep III e Tiy foi marcado pela diplomacia, por casamentos reais e perspicácia, e ambos conquistaram o povo pelo caminho da prosperidade, com programas de construções – portos, canais e o grande templo funerário em Tebas, o maior do Egito.
Tiy, matriarca da família Amarna, morreu no ano de 1.338 antes de Cristo. Teve seis filhos que deram continuidade a sua tradição, e entre eles conta-se Akhenaton, que se tornaria um dos mais poderosos líderes daqueles tempos casando-se com Nefertiti e tendo Tutancâmon como filho – isso mesmo, o famoso e tão falado Tutancâmon era neto de Tiy. Vale observar que a família continuou adorando- a após a sua morte e carregou seu nome para séculos futuros através de novas estátuas e monumentos, como se ela sempre trouxesse força e progresso. A múmia de Tiy apresenta um cacho de cabelo castanho- avermelhado, reacendendo os encantos e mistérios dessa mulher. “Desenterramos nossa própria origem e agora iremos expô-la a céu aberto. Tenho certeza de que o mundo ficará fascinado com essa nova personagem”, diz o ministro Hosni.

Arqueólogos fazem novas descobertas em Menmon, no Egito

LUXOR, Egito, 22 Mar 2008 (AFP) - Arqueólogos europeus e egípcios anunciaram neste sábado várias descobertas que irão mudar a forma com que o sítio arqueológico dos colossos de Menmon (Luxor, sul do Egito) é visto.Os arqueólogos informaram que descobriram uma estátua gigante de 3,62 metros da rainha Tiy, mulher do faraó da 18ª dinastia Amenhotep III, que governou de 1427 a 1379 antes de Cristo, além de duas esfinges representando o casal real e dez estátuas de granito negro de Sekhmet, a divindade com cabeça de leão.O ministro da Cultura do Egito, Faruq Hosni, afirmou que a descoberta é "formidável" e que espera que as estátuas possam ser vistas pelo público dentro de um ano.Os dois colossos reais de 15 metros descobertos em escavações anteriores serão expostos também no ano que vem, a 100 metros das duas grandes estátuas que dominam o lugar e que são um dos cartões-postais mais famosos do Egito."Com a instalação dos dois novos colossos e a exposição de tudo que já descobrimos, a percepção que temos do lugar irá mudar totalmente. Vai se tornar um dos museus ao ar livre mais importantes da época dos faraós", disse à AFP Hurig Suruzian, diretora da equipe de arqueólogos.Os Colossos de Menmon são gigantescas estátuas de quartzito, de cerca de 20 metros, que seriam as guardiãs do templo funerário do faraó, que foi atingido por um terremoto no século 1 depois de Cristo. Durante os séculos, as inundações do Nilo também devastaram o local.

Deus Anúbis

segunda-feira, 17 de março de 2008


A lenda revela-nos que tão inusitada união dera-se quando do retorno do então Soberano do Egito ao seu magnífico país. Extenuando de uma viagem que o mantivera longe da sua pátria por uma eternidade, Osíris ardia em desejo de sentir o Sol que raiava no olhar de Ísis despir a mortalha de nuvens, tecida pela saudade, que vestia e sufocava os céus de sua alma. Ao vislumbrar Néftis, o deus enlaça-a então em seus braços, tomando-a pela sua esposa. E os seus sentidos, cegos pela paixão, revelam-se impotentes para lhe desvendar a traição que ele cometia, antes desta encontrar-se consumada. Graças a uma coroa de meliloto abandonada por Osíris no leito de Néftis, Ísis abraça a percepção de que o seu amado esposo havia-lhe sido infiel e, desesperada, confronta a sua irmã, que lhe revela que de tão ilídimas núpcias nascera um filho, Anúbis, o qual, temendo a cólera do seu esposo legítimo, Seth, ela havia ocultado algures nos pântanos. Ísis, a quem não fora concedido o apanágio de conceber um filho de Osíris, enleia então a resolução de resgatá-lo ao seu esconderijo, percorrendo assim todo o país até encontrar a criança. Ato contínuo, e numa notória demonstração da benevolência que lhe era característica, a deusa amamenta Anúbis, criando-o para tornar-se o seu protetor e mais fiel companheiro.
A lenda de Osíris comprova que Ísis foi coroada de sucesso, uma vez que, após o desmembramento do corpo de seu esposo, Anúbis voluntariou-se prontamente para auxiliar a deusa a reunir os inúmeros fragmentos do defunto. Posteriormente, Anúbis participa com igual dedicação nos rituais executados com o fim de restituir a Osíris o sopro de vida e que lhe facultaram a concepção da primeira múmia, fato que legitimou a sua conversão no venerado deus do embalsamamento, eterno guia do defunto no Além. A sua crescente influência garantiu-lhe um posto relevante no tribunal composto por quarenta e dois juízes que julgava os recém- inumados. De fato, é ele quem conduz o morto até Osíris, apresentando-o ao tribunal por ele presidido, para de seguida proceder à pesagem do coração. Se porventura o morto desejar mais tarde regressar à terra, é Anúbis quem ele tem a obrigação de notificar previamente, dado que esta surtida só será exeqüível com o seu consentimento expresso, formalmente consignado sob a forma de um decreto.As suas múltiplas funções permitem a este deus deter diversas denominações, embora todas elas se encontrem intrincadamente relacionadas com o seu papel na vida póstuma dos egípcios. Assim, Anúbis é reconhecido como “o das ligaduras”, como patrono dos embalsamadores, “presidente do pavilhão divino”, enquanto soberano do edifício onde a poesia da mumificação era declamada por peritos, “senhor da necrópole” ou então “aquele que está em cima da montanha”, designações que exaltavam a sua posição enquanto guardião dos túmulos e condutor dos defuntos nos traiçoeiros labirintos do mundo inferior. Como tal, não é de todo inusitado o rol interminável de hinos e preces a ele destinados, que encontramos não raras vezes nas paredes das mastabas mais antigas e igualmente no famigerado “Texto das Pirâmides”.Anúbis constitui igualmente a deidade tutelar da décima sétima província do Alto Egito, cuja capital, Cinopólis (“A Cidade dos Cães”), era o âmago do seu culto, não obstante a sua imagem ser também uma constante em relevos e textos figurativos existentes nas sepulturas reais ou plebéias do vale do Nilo. Com efeito, ao longo de toda a época faraônica, Anúbis usufruiu de uma inefável popularidade que se refletiu na sólida implantação do seu culto nos díspares centros religiosos do país, particularmente em Tebas ou Mênfis. Em Charuna, localidade próxima do seu principal santuário, deparamo-nos com uma necrópole de cães mumificados, os quais eram venerados enquanto animais sagrados do deus.
Mas afinal que arte era esta que Anúbis protegia e representava? Originalmente, antes de haverem alcançado o seu meticuloso método de mumificação, os Egípcios envolviam os seus defuntos numa esteira ou pele de animal, visando que o calor e o vento dissecassem os cadáveres. Após um moroso processo evolutivo, os embalsamadores conseguiram enfim obter de forma artificial tal conservação natural, mediante um prolixo tratamento, que se prolongava por setenta dias. Uma vez ser necessário quantidades abundantes de água para lavrar os corpos, este ritual era realizado na margem Ocidental do rio Nilo (a considerável distância das habitações), onde os embalsamadores trabalhavam numa tenda arejada. Ultimado o referido período de tempo, os defuntos seguiam para as designadas “Casas de Purificação”, meras salas reservadas para as práticas de mumificação, onde cada gesto dos embalsamadores era talhado no olhar vigilante dos sacerdotes. Segundo inúmeros baixos-relevos e pinturas, estes primeiros ostentavam máscaras com a efígie do deus- chacal Anúbis, a deidade protetora dos mortos, talvez num desejo de atrair a sua benevolência. O único exemplar que se conserva de semelhante máscara leva a crer que esta servisse igualmente de proteção contra os diversos cheiros que fustigavam os embalsamadores. Alguns momentâneos descuidos destes levaram-nos a esquecerem-se, por vezes, de determinados instrumentos no interior das múmias, o que nos permite conhecer, aprofundadamente, os seus diversos utensílios de trabalho: ganchos de cobre, pinças, espátulas, colheres, agulhas, vasos munidos de bicos para deitar a goma escaldante sobre o cadáver e furadores com cabeça de forcado, para abrir, esvaziar e tornar a fechar o corpo. Dada a ausência de qualquer informação legada pelos Egípcios sobre as suas técnicas de embalsamamento, é necessário recorrer aos relatos de historiadores gregos, como Heródoto, para que a nossa curiosidade seja saciada. As suas descrições permitem-nos vislumbrar cada movimento dos embalsamadores. Em primeiro lugar, estes extraíam o cérebro do defunto pelas narinas, com o auxílio de um gancho de ferro. Seguidamente, “com uma faca de pedra da Etiópia” (segundo refere Hérodoto) efetuavam uma incisão no flanco do defunto, pelo qual retiravam os intestinos do morto. Após terem limpado diligentemente a cavidade abdominal, lavavam-na com vinho de palma e preenchiam o ventre com uma fusão de mirra pura, canela e outras matérias odoríferas. Deixavam então o corpo repousar numa solução alcalina, baseada em cristais de natrão seco, onde permanecia durante setenta dias, ao fim dos quais a múmia era envolvida com mais de vinte camadas de ligaduras e coberta por um óleo de embalsamamento (uma mistura de óleos vegetais e de resinas aromáticas- coníferas do Líbano, incenso e mirra), que endurecia, rapidamente. Todavia, as suas propriedades anti-micósicas e antibacterianas não protegiam a estrutura do corpo esvaziado, dessecado e leve, fato comprovado pelo incidente ocorrido com a múmia do jovem faraó Tutankhámon, que se fragmentou, quando a tentaram remover do seu caixão. As faixas que envolviam o defunto eram, preferencialmente, de cores vermelho e rosa, jamais sendo utilizado para a sua concepção linho novo, mas sim, aquele que era obtido a partir das vestes que o morto envergava em vida. À medida que as ligaduras eram colocadas em torno dos defuntos, os sacerdotes presentes pronunciavam fórmulas sagradas. Simultaneamente, depositavam-se nos leitos de linho inúmeros amuletos profiláticos, tendo mesmo sido encontrada uma múmia com cerca de oitenta e sete destes objetos de culto. Entre estes se encontrava ankh (vida), uma das mais preciosas dádivas oferecidas aos homens pelos deuses; o olho de oudjat, ou olho de Hórus, símbolo de integridade, que selava a incisão feita pelos embalsamadores, para retirar as entranhas do morto; um amuleto em forma de coração, concebido para assegurar que os defuntos seriam bem sucedidos nos seus julgamentos; e o escaravelho, esculpido em pedra, barro ou vidro. Este inseto enrola bolas de esterco, onde depõe os ovos. Os Egípcios creiam que um escaravelho gigante gerara o Sol de forma similar, rolando-o em direção do horizonte, até ao firmamento. Uma vez que todas as manhãs este astro soberano desprende-se de um abraço de trevas, o escaravelho tornou-se num símbolo da ressurreição dos mortos.
No exórdio da civilização egípcia, ultimados os seus processos de mumificação, as pessoas notáveis eram inumadas num caixão de forma retangular, depositado num sarcófago de pedra, considerado como depositário da vida. Porém, ao longo da história, os caixões sofrem diversas metamorfoses, que alteraram, radicalmente, os seus simulacros. No Médio Império, os caixões tornaram-se antropomórficos, aumentando a sua produção. A própria múmia principiou a ter uma máscara de linho estucado, isenta de qualquer semelhança com o defunto. Na realidade, inúmeras múmias eram sepultadas em diversas urnas, sendo colocada uma dentro da outra, à semelhança das bonecas russas. Deste modo, a urna interna, mais ajustada, deveria encontrar-se apertada atrás. Durante muito tempo, os sarcófagos eram construídos em madeira. Não obstante, num período mais tardio, as urnas interiores eram efetuadas com camadas de papiro ou linho, o que se tornava mais economicamente acessível. Junto aos túmulos, repousavam cofres de madeira, que guardavam quatro recipientes, desde o mais humilde pote de barro ao mais faustoso vaso de alabastro. Estes canopes, cujo nome advém de Kanops, cidade situada a leste de Alexandria, continham as vísceras do defunto, uma vez que sem estas, o corpo não se encontraria completo. Inicialmente, esta pratica consistia em mais uma prerrogativa reservada aos soberanos do Egito, mas com alguma rapidez estendeu-se igualmente aos sacerdotes e altos funcionários e, por fim, no Novo Império, a todos os egípcios abastados. O fígado, o estômago, os pulmões e os intestinos eram envolvidos separadamente em tecidos de linho, formando embrulhos que eram, em seguida, depositados no interior dos díspares canopes, após terem sido impregnados com resina de embalsamamento. Em contrapartida, o coração, símbolo da razão, cerne do encontro do espírito e simulacro da alma, após ser submetido a um rigoroso tratamento que visava a sua conservação, era sempre recolocado no corpo do defunto, que iria necessitar dele, ao longo do seu julgamento no Além. Por seu turno, as intrínsecas vísceras eram entregues a quatro deidades protetoras, filhos de Hórus, cujas cabeças ornamentavam freqüentemente as tampas dos canopes: Amset, com cabeça de homem, (cujo nome resulta de aneth, uma planta conhecida pelas suas propriedades de conservação), tornado protetor do estômago; Hápi, possuidor de uma cabeça de babuíno, que vela pelos intestinos; Duamoutef, que ostenta uma cabeça de cão e cuja missão é proteger os pulmões; e Quebekhsenouf, detentor de uma cabeça de falcão, que preserva o fígado. A partir do Novo Império, eram representadas nas arestas dos canopes deusas protetoras, que, com as asas abertas, resguardavam os seus conteúdos. As mesmas deusas surgiam ajoelhadas nos cantos dos sarcófagos. Nut, a deusa da abóbada celeste, adorna a face interior do tampo do caixão.Paradoxalmente, os mais humildes eram privados de qualquer prerrogativa, sendo sepultados no deserto, envoltos numa pele de vaca, uma vez que não possuíam meios para pagar o avultado preço da imortalidade.
Detalhes e vocabulário egípcio:Djed- eternidade;Keres- caixão;Na Época Greco-Romana, Anúbis foi investido de novas incumbências, encarnado numa deidade cósmica, regente dos céus e da terra.Etimologicamente, o epíteto “Anupus” pode possuir a sua origem na palavra inep, empregue com o significado de “putrificar”.A imagem de Anúbis, nas suas díspares representações, é uma constante não apenas nas múmias e sarcófagos, mas também nas vinhetas dos papiros funerários. A estatueta de Anúbis com cabeça de cão selvagem constituía igualmente um amuleto, que colocava os defuntos sobre a proteção do deus. Evoca-se como exemplo o túmulo do jovem Tutankhámon, entre muitos outros.A famigerada múmia do faraó Ramsés III sobreviveu indemne durante quase 3000 anos, graças à arte egípcia do embalsamamento e à preservação do deserto. Porém, alguns meses de permanência num museu teriam causado a sua total destruição, caso inúmeros egiptólogos não houvessem agido, prontamente. out- embalsamadoresvabet- lugar de purificação, 'Casa da Purificação'

Deus Hórus


Hórus, mítico soberano do Egito, desdobra as suas divinas asas de falcão sob a cabeça dos faraós, não somente meros protegidos, mas, na realidade, a própria encarnação do deus do céu. Pois não era ele o deus protetor da monarquia faraônica, do Egito unido sob um só faraó, regente do Alto e do Baixo Egito? Com efeito, desde o florescer da época história, que o faraó proclamava que neste deus refulgia o seu ka (poder vital), na ânsia de legitimar a sua soberania, não sendo pois inusitado que, a cerca de 3000 a. C., o primeiro dos cinco nomes da titularia real fosse exatamente “o nome de Hórus”. No panteão egípcio, diversas são as deidades que se manifestam sob a forma de um falcão. Hórus, detentor de uma personalidade complexa e intrincada, surge como a mais célebre de todas elas. Mas quem era este deus, em cujas asas se reinventava o poder criador dos faraós? Antes de mais, Hórus representa um deus celeste, regente dos céus e dos astros neles semeados, cuja identidade é produto de uma longa evolução, no decorrer da qual Hórus assimila as personalidades de múltiplas divindades. Originalmente, Hórus era um deus local de Sam- Behet (Tell el- Balahun) no Delta, Baixo Egipto. O seu nome, Hor, pode traduzir-se como “O Elevado”, “O Afastado”, ou “O Longínquo”. Todavia, o decorrer dos anos facultou a extensão do seu culto, pelo que num ápice o deus tornou-se patrono de diversas províncias do Alto e do Baixo Egito, acabando mesmo por usurpar a identidade e o poder das deidades locais, como, por exemplo, Sopedu (em zonas orientais do Delta) e Khentekthai (no Delta Central). Finalmente, integra a cosmogonia de Heliópolis enquanto filho de Ísis e Osíris, englobando díspares divindades cuja ligação remonta a este parentesco. O Hórus do mito osírico surge como um homem com cabeça de falcão que, à semelhança de seu pai, ostenta a coroa do Alto e do Baixo Egito. É igualmente como membro desta tríade que Hórus saboreia o expoente máximo da sua popularidade, sendo venerado em todos os locais onde se prestava culto aos seus pais. A Lenda de Osíris revela-nos que, após a celestial concepção de Hórus, benção da magia que facultou a Ísis o apanágio de fundir-se a seu marido defunto em núpcias divinas, a deusa, receando represálias por parte de Seth, evoca a proteção de Ré- Atum, na esperança de salvaguardar a vida que florescia dentro de si. Receptivo às preces de Ísis, o deus solar velou por ela até ao tão esperado nascimento. Quando este sucedeu, a voz de Hórus inebriou então os céus: “Eu sou Hórus, o grande falcão. O meu lugar está longe do de Seth, inimigo de meu pai Osíris. Atingi os caminhos da eternidade e da luz. Levanto vôo graças ao meu impulso. Nenhum deus pode realizar aquilo que eu realizei. Em breve partirei em guerra contra o inimigo de meu pai Osíris, calcá-lo-ei sob as minhas sandálias com o nome de Furioso... Porque eu sou Hórus, cujo lugar está longe dos deuses e dos homens. Sou Hórus, o filho de Ísis.” Temendo que Seth abraçasse a resolução de atentar contra a vida de seu filho recém- nascido, Ísis refugiou-se então na ilha flutuante de Khemis, nos pântanos perto de Buto, circunstância que concedeu a Hórus o epíteto de Hor- heri- uadj, ou seja, “Hórus que está sobre a sua planta de papiro”. Embora a natureza inóspita desta região lhe oferecesse a tão desejada segurança, visto que Seth jamais se aventuraria por uma região tão desértica, a mesma comprometia, concomitantemente, a sua subsistência, dada a flagrante escassez de alimentos característica daquele local. Para assegurar a sua sobrevivência e a de seu filho, Ísis vê-se obrigada a mendigar, pelo que, todas as madrugadas, oculta Hórus entre os papiros e erra pelos campos, disfarçada de mendiga, na ânsia de obter o tão necessário alimento. Uma noite, ao regressar para junto de Hórus, depara-se com um quadro verdadeiramente aterrador: o seu filho jazia, inanimado, no local onde ela o abandonara. Desesperada, Ísis procura restituir-lhe o sopro da vida, porém a criança encontrava-se demasiadamente débil para alimentar-se com o leite materno. Sem hesitar, a deusa suplica o auxílio dos aldeões, que, todavia se relevam impotentes para socorrê-la.
Quando o sofrimento já quase a fazia transpor o limiar da loucura, Ísis vislumbrou diante de si uma mulher popular pelos seus dons de magia, que prontamente examinou o seu filho, proclamando Seth alheio ao mal que o atormentava. Na realidade, Hórus (ou Harpócrates, Horpakhered- “Hórus menino/ criança”) havia sido simplesmente vítima da picada de um escorpião ou de uma serpente. Angustiada, Ísis verificou então a veracidade das suas palavras, decidindo-se, de imediato, e evocar as deusas Néftis e Selkis (a deusa- escorpião), que prontamente ocorreram ao local da tragédia, aconselhando-a a rogar a Ré que suspendesse o seu percurso usual até que Hórus convalescesse integralmente. Compadecido com as suplicas de uma mãe, o deus solar ordenou assim a Toth que salvasse a criança. Quando finalmente se viu diante de Hórus e Ísis, Toth declarou então: “Nada temas, Ísis! Venho até ti, armado do sopro vital que curará a criança. Coragem, Hórus! Aquele que habita o disco solar protege-te e a proteção de que gozas é eterna. Veneno, ordeno-te que saias! Ré, o deus supremo, far-te-á desaparecer. A sua barca deteve-se e só prosseguirá o seu curso quando o doente estiver curado. Os poços secarão, as colheitas morrerão, os homens ficarão privados de pão enquanto Hórus não tiver recuperado as suas forças para ventura da sua mãe Ísis. Coragem, Hórus. O veneno está morto, ei- lo vencido.” Após haver banido, com a sua magia divina, o letal veneno que estava prestes a oferecer Hórus à morte, o excelso feiticeiro solicitou então aos habitantes de Khemis que velassem pela criança, sempre que a sua mãe tivesse necessidade de se ausentar. Muitos outros sortilégios se abateram sobre Hórus no decorrer da sua infância (males intestinais, febres inexplicáveis, mutilações), apenas para serem vencidos logo de seguida pelo poder da magia detida pelas sublimes deidades do panteão egípcio. No limiar da maturidade, Hórus, protegido até então por sua mãe, Ísis, tomou a resolução de vingar o assassinato de seu pai, reivindicando o seu legítimo direito ao trono do Egito, usurpado por Seth. Ao convocar o tribunal dos deuses, presidido por Rá, Hórus afirmou o seu desejo de que seu tio deixasse, definitivamente, a regência do país, encontrando, ao ultimar os seus argumentos, o apoio de Toth, deus da sabedoria, e de Shu, deus do ar. Todavia, Ra contestou-os, veementemente, alegando que a força devastadora de Seth, talvez lhe concedesse melhores aptidões para reinar, uma vez que somente ele fora capaz de dominar o caos, sob a forma da serpente Apópis, que invadia, durante a noite, a barca do deus- sol, com o fito de extinguir, para toda a eternidade, a luz do dia. Ultimada uma querela verbal, que cada vez mais os apartava de um consenso, iniciou-se então uma prolixa e feroz disputa pelo poder, que opôs em confrontos selváticos, Hórus a seu tio. Após um infrutífero rol de encontros quase soçobrados na barbárie, Seth sugeriu que ele próprio e o seu adversário tomassem a forma de hipopótamos, com o fito de verificar qual dos dois resistiria mais tempo, mantendo-se submergidos dentro de água. Escoado algum tempo, Ísis foi incapaz de refrear a sua apreensão e criou um arpão, que lançou no local, onde ambos haviam desaparecido. Porém, ao golpear Seth, este apelou aos laços de fraternidade que os uniam, coagindo Ísis a sará-lo, logo em seguida. A sua intervenção enfureceu Hórus, que emergiu das águas, a fim de decapitar a sua mãe e, ato contíguo, levá-la consigo para as montanhas do deserto. Ao tomar conhecimento de tão hediondo ato, Rá, irado, vociferou que Hórus deveria ser encontrado e punido severamente. Prontamente, Seth voluntariou-se para capturá-lo. As suas buscas foram rapidamente coroadas de êxito, uma vez que este nem ápice se depararam com Hórus, que jazia, adormecido, junto a um oásis. Dominado pelo seu temperamento cruel, Seth arrancou ambos os olhos de Hórus, para enterrá-los algures, desconhecendo que estes floresceriam em botões de lótus. Após tão ignóbil crime, Seth reuniu-se a Rá, declarando não ter sido bem sucedido na sua procura, pelo que Hórus foi então considerado morto. Porém, a deusa Hátor encontrou o jovem deus, sarando-lhe, miraculosamente, os olhos, ao friccioná-los com o leite de uma gazela. Outra versão pinta-nos um novo quatro, em que Seth furta apenas o olho esquerdo de Hórus, representante da lua. Contudo, nessa narrativa o deus-falcão, possuidor, em seus olhos, do Sol e da lua, é igualmente curado.
Em ambas as histórias, o Olho de Hórus, sempre representado no singular, torna-se mais poderoso, no limiar da perfeição, devido ao processo curativo, ao qual foi sujeito. Por esta razão, o Olho de Hórus ou Olho de Wadjet surge na mitologia egípcia como um símbolo da vitória do bem contra o mal, que tomou a forma de um amuleto protetor. A crença egípcia refere igualmente que, em memória desta disputa feroz, a lua surge, constantemente, fragmentada, tal como se encontrava, antes que Hórus fosse sarado. Determinadas versões desta lenda debruçam-se sobre outro episódio de tão desnorteante conflito, em que Seth conjura novamente contra a integridade física de Hórus, através de um aparentemente inocente convite para visitá-lo em sua morada. A narrativa revela que, culminado o jantar, Seth procura desonrar Hórus, que, embora precavido, é incapaz de impedir que uma gota de esperma do seu rival tombe em suas mãos. Desesperado, o deus vai então ao encontro de sua mãe, a fim de suplicar-lhe que o socorra. Partilhando do horror que inundava Hórus, Ísis decepou as mãos do filho, para arremessá-las de seguida à água, onde graças à magia suprema do deus, elas desaparecem no lodo. Todavia, esta situação torna-se insustentável para Hórus, que toma então a resolução de recorrer ao auxílio do Senhor Universal, cuja extrema bonomia o leva a compreender o sofrimento do deus- falcão e, por conseguinte, a ordenar ao deus- crocodilo Sobek, que resgatasse as mãos perdidas. Embora tal diligência haja sido coroada de êxito, Hórus depara-se com mais um imprevisto: as suas mãos tinham sido abençoadas por uma curiosa autonomia, encarnado dois dos filhos do deus- falcão. Novamente evocado, Sobek é incumbido da tarefa de capturar as mãos que teimavam em desaparecer e levá-las até junto do Senhor Universal, que, para evitar o caos de mais uma querela, toma a resolução de duplicá-las. O primeiro par é oferecido à cidade de Nekhen, sob a forma de uma relíquia, enquanto que o segundo é restituído a Hórus. Este prolixo e verdadeiramente selvático conflito foi enfim solucionado quando Toth persuadiu Rá a dirigir uma encomiástica missiva a Osíris, entregando-lhe um incontestável e completo título de realeza, que o obrigou a deixar o seu reino e confrontar o seu assassino. Assim, os dois deuses soberanos evocaram os seus poderes rivais e lançaram-se numa disputa ardente pelo trono do Egito. Após um reencontro infrutífero, Ra propôs então que ambos revelassem aquilo que tinham para oferecer à terra, de forma a que os deuses pudessem avaliar as suas aptidões para governar. Sem hesitar, Osíris alimentou os deuses com trigo e cevada, enquanto que Seth limitou-se a executar uma demonstração de força. Quando conquistou o apoio de Ra, Osíris persuadiu então os restantes deuses dos poderes inerentes à sua posição, ao recordar que todos percorriam o horizonte ocidental, alcançando o seu reino, no culminar dos seus caminhos. Deste modo, os deuses admitiram que, com efeito, deveria ser Hórus a ocupar o trono do Egito, como herdeiro do seu pai. Por conseguinte, e volvidos cerca de oito anos de altercações e reencontros ferozes, foi concedida finalmente ao deus- falcão a tão cobiçada herança, o que lhe valeu o título de Hor-paneb-taui ou Horsamtaui/Horsomtus, ou seja, “Hórus, senhor das Duas Terras”.
Como compensação, Rá concedeu a Seth um lugar no céu, onde este poderia desfrutar da sua posição de deus das tempestades e trovões, que o permitia atormentar os demais. Este mito parece sintetizar e representar os antagonismos políticos vividos na era pré- dinástica, surgindo Hórus como deidade tutelar do Baixo Egito e Seth, seu oponente, como protetor do Alto Egito, numa clara disputa pela supremacia política no território egípcio. Este reencontro possui igualmente uma cerca analogia com o paradoxo suscitado pelo combate das trevas com a luz, do dia com a noite, em suma, de todas as entidades antagônicas que encarnam a típica luta do bem contra o mal. A mitologia referente a este deus difere consoante as regiões e períodos de tempo. Porém, regra geral, Hórus surge como esposo de Háthor, deusa do amor, que lhe ofereceu dois filhos: Ihi, deus da música e Horsamtui, “Unificador das Duas Terras”. Todavia, e tal como referido anteriormente, Hórus foi imortalizado através de díspares representações, surgindo por vezes sob uma forma solar, enquanto filho de Atum- Ré ou Geb e Nut ou apresentado pela lenda osírica, como fruto dos amores entre Osíris e Ísis, abraçando assim diversas correntes mitológicas, que se fundem, renovam e completam em sua identidade. É dos muitos vetores em que o culto solar e o culto osírico, os mais relevantes do Antigo Egito, se complementam num oásis de Sol, pátria de lendas de luz, em cujas águas d’ ouro voga toda a magia de uma das mais enigmáticas civilizações da Antiguidade. Detalhes e vocabulário egípcio:culto de Hórus centralizava-se na cidade de Edfu, onde particularmente no período ptolomaico saboreou uma estrondosa popularidade;culto do deus falcão dispersou-se em inúmeros sub- cultos, o que criou lendas controversas e inúmeras versões do popular deus, como a denominada Rá- Harakhty;as estelas (pedras com imagens) de Hórus consideravam-se curativas de mordeduras de serpentes e picadas de escorpião, comuns nestas regiões, dado representarem o deus na sua infância vencendo os crocodilos e os escorpiões e estrangulando as serpentes. Sorver a água que qualquer devotado lhe houvesse deixado sobre a cabeça, significava a obtenção da proteção que Ísis proporcionava ao filho. Nestas estelas surgia, freqüentemente, o deus Bes, que deita a língua de fora aos maus espíritos. Os feitiços cobrem os lados externos das estelas. Encontramos nelas uma poderosa proteção, como salienta a famigerada Estela de Mettenich: “Sobe veneno, vem e cai por terra. Hórus fala-te, aniquila-te, esmaga-te; tu não te levantas, tu cais, tu és fraco, tu não és forte; tu és cego, tu não vês; a tua cabeça cai para baixo e não se levanta mais, pois eu sou Hórus, o grande Mágico.”. out- embalsamadoresvabet- lugar de purificação